Das Ilhas Mestiças - 2007
Escute aqui as faixas do CD
1 - Calango Mindelo
2 - De mão cheia
3 - Suave dengo
4 - Porque que tem que ser assim
5 - Burrito
6 - Morabeza
7 - Sonhos
8 - Sem vergonha
9 - Equador
10 - Ponto de bala
11 - Ilhas mestiças
12 - Aresta América
13 - Rala coxa
Entrevista para o site novomundo
Alberto Costa e Silva apresentou o disco com este texto.
Antes mesmo de começar a tomar forma, o Brasil era ensaiado no arquipélago de Cabo Verde e nas ilhas de São Tomé e Príncipe. No início do século XVI, já era intensa a miscigenaçao em Cabo Verde, onde os mulatos logo se tornariam predominantes, enquanto que, em São Tomé, se estabelecera um novo modo de produzir açúcar, que iria ser transplantado para o Brasil, em estabelecimentos agroindustriais integrados, que compreendiam desde o plantio da cana até o refino, tudo sob a mesma propriedade e baseado no trabalho escravo. Durante os três séculos do tráfico, Cabo Verde e São Tomé e Príncipe serviram como pontos de passagem, e muitas vezes de
treinamento, de numerosa escravaria que tinha como destino final o Brasil, e, até os nossos dias, nas ilhas cabo-verdianas iam buscar aguada e refresco os navios que, saídos do Brasil, demandavam a Costa da África ou a Europa. Cabo Verde funcionou, assim, desde o início do Quinhentos, como um traço de união entre o Brasil e a África, e como um lugar de encontro entre africanos, europeus e brasileiros. É provável, portanto, que ali tenham dialogado, pela primeira vez de forma sistemática, os instrumentos da Alta Guiné com o violão, trazido pelos portugueses, e o compasso europeu com a polirritmia africana.
A conversação transatlântica entre o Brasil e Cabo Verde continuou a ser alimentada, depois de cessado o tráfico de escravos, pelos cabo-verdianos que se engajavam nos navios cargueiros de bandeira brasileira e, muitas vezes, desciam, para fundar famílias, no Recife e no Rio de Janeiro, e pelos marujos brasileiros que escolhiam estabelecer-se no arquipélago. Aprendemos a cantar juntos, e disso nos lembra, já que andamos esquecidos, a música de Rodrigo Lessa, que junta e soma o que ficou de nós no meio do Atlântico com o que, recriado nas ilhas mestiças, jamais deixou de fazer parte de nós.
Depoimento de Rodrigo Lessa
Meu novo disco surgiu a partir da vontade de aproximar a música do Rio de Janeiro (que me constitui como ser musical), da de Cuba e Caribe e do meu recente encanto musical: Cabo Verde.
Apesar da profundidade e do tamanho de nossas identidades múltiplas considero pequeno o foco dado a esse dialogo .
Minha música Rala Coxa, a semente desse projeto, foi gravada pela primeira vez em 2003 e marca o início desta mistura, reaparece remixada fechando o disco como uma faixa brinde.
Meu interesse pelo projeto acabou me levando a realizar uma viagem de pesquisa musical em Cabo Verde onde pude colher as participações dos cabo-verdianos Toi Vieira e Vaiss assim como dos cantores portugueses Janita e Vitorino Salomé.
A música e a cultura cubana, tão afins à nossa, já são alvos da minha admiração há tempos. A percussão forte e presente, a alegria, a síncope, a cana-de-açúcar, o arroz com feijão, a religiosidade, o histórico de origens tão semelhantes, são inúmeros os pontos que nos unem! Infelizmente não pude viajar a Cuba , porém no Rio de Janeiro tive a sorte receber Cuba através da música de Julio Padrón e José Izquierdo.
Destaco ainda a honra de ter contado com a participação emblemática de João Donato – homem que notabilizou este processo de misturas da música brasileira com a afro-cubana.
Tenho que também sublinhar o talento, a plasticidade e a colaboração criativa dos músicos cariocas e brasileiros que confirmaram nossa vocação, afinal misturar sempre foi nossa praia.
Nossas afinidades e diferenças transitaram no oceano Atlântico, um Atlântico nos une, nos geriu, nos alimentou e alimenta, um “Atlântico Negro” que quem melhor traduz é Hermano Viana,
"A música afro-americana também não possui uma raiz fincada em algum descampado subsaarino, mas sim criou uma malha de tradições interconectadas de tantas maneiras, e com tantos curtos-circuitos internos, que faz com que qualquer ritmo seja simultaneamente pai, filho, mãe, primo de todos os outros ritmos".
Sobre o Ilhas Mestiças
Em seu quinto disco autoral, o bandolinista Rodrigo Lessa empreende saborosa viagem pela miscigenação musical que une Brasil, Cabo Verde e Cuba. As origens dessas bem intencionadas transgressões sonoras datam do ciclo da escravidão. O tráfico de escravos fez com que esses elementos culturais aparentemente distantes se cruzassem, resultando em sonoridades absolutamente envolventes.
Lessa criou, após minuciosa pesquisa, um repertório de enorme beleza com temas como Calango Mindelo, Suave Dengo, Burrito, Sem Vergonha, Equador, Ponto de Bala, Rala Coxa e Das Ilhas Mestiças. São sambas, calangos, sons (o son é um ritmo cubano bastante parecido com o samba em sua essência), mornas (espécie de acalantos, originários de Cabo Verde) e até jazz (sim, o jazz também é de origem africana…).
A acompanhar Rodrigo e seu bandolim, músicos do quilate de Julio Padron (trompete), Nailson Simões (trompete), Eduardo Neves (sax, flauta), Zé Carlos Bigorna (saxofones), Rogério Souza (violão), Luis Louchard Ibaixolão), Jaguara (percussão), Chico Chagas (acordeon), Xande Figueiredo (bateria), Vaiss (guitarra), José Izquierdo (congas), Gabriel Improta (violão), Celsinho Silva (pandeiro, tamborim), Bernardo Aguiar (percussão), Jessé Sadoc (trompete) e do mestre João Donato ao piano (Donato tem a música latina como uma de suas maiores referências). Excepcional!
Diário de viagem - Cabo Verde
Críticas sobre o CD
Dilma Roussef
Recebeu em 16 de maio de 2013 da Presidente Dilma Roussef a comenda de Cavaleiro da Ordem do Rio Branco pela importância do cd na aproximação cultural entre o Brasil e a Africa.
Hermano Viana
No mundo encantado dos livros didáticos de escola (bota aí doses cavalares de etnocentrismo), algumas civilizações ocupam um lugar congelado no imaginário popular: o Egito deixou de existir no noticiário logo após Cleópatra, gregos usam escudos e lanças até hoje e Cabo Verde é aquele lugar exótico que servia de entreposto para os escravos que Portugal levava ao Brasil colônia. Toda essa lenga-lenga é para destacar o 'sacode' que o compositor e bandolinista Rodrigo Lessa dá no marasmo ao lançar o quinto álbum autoral da carreira, Das ilhas mestiças.
O CD, que tem 12 faixas inéditas, estabelece hoje um diálogo musical entre Rio de Janeiro, Cuba e o arquipélago de Cabo Verde – sim, a mesma Cabo Verde ignorada dos noticiários e refém dos livros escolares.O prenúncio do que estava por vir pode ser conferido aqui mesmo no Overmundo. Ano passado, Lessa publicou no site uma espécie de diário de bordo – em que relatava a experiência de ter feito uma viagem até Cabo Verde para captar participações de músicos locais.
Para quem não leu, vale resgatar o texto e curtir desde fatos inusitados aos detalhes dos encontros com alguns artistas. Momento Quizz: você sabe qual a capital de Cabo Verde? Tem lá no diário. Mas este texto é só uma introdução. Para falar do novo álbum, ninguém melhor que o próprio Rodrigo Lessa. Em entrevista via Skype, ela fala da viagem, das inspirações, do elo cultural entre Cuba, Cabo Verde e Brasil e conta como foi feito o disco. Clique no botão ao lado e ouça.
Paulo Moura
Depoimento de Paulo Moura sobre música Rala Coxa, gravada por ele em seu cd Estação Leopoldina, tema que conceituou a feitura do das Ilhas Mestiças
A música brasileira se assemelha muito ao estilo musical centro-americano, como o cubano. Por isso, gravei Bananeira, do João Donato, que é um dos expoentes brasileiros neste estilo. Convidei também o Rodrigo Lessa para tocar uma composição dele, Rala coxa, uma das minhas preferidas deste disco, porque tem um ritmo bem próximo do que se toca no Cabo Verde.”
Antonio Carlos Miguel
O Globo - 15/05/2007
Para Onde vai a música instrumental Brasileira?”. Internet é um dos caminhos para quem quer achar a ótima produção independente no setor. Também tangenciando o universo do choro, em Das Ilhas Mestiças o bandolinista e compositor Rodrigo Lessa procura aproximar as tradições do Rio, Cuba e Cabo Verde. Bela Sacada...
Hermano Viana
Site Overmundo - 09/09/2007
Sou muito fã desse disco!
Tárik de Souza
Jornal do Brasil - 04/06/2007
Rodrigo Lessa acerta ao misturar ritmos Lusos, Cubanos e Brasileiros.
Luis Fernando Vianna
Folha de São Paulo - 01/06/2007
Formado no choro e com passagens expressivas pelo samba e outras bossas nacionais, o bandolinista e violonista Rodrigo Lessa da um passo além de fronteiras e mistura Cuba e Cabo Verde ao Brasil neste novo cd... melhor do que panfletos as músicas mostram como são fortes e naturais nossos elos com o Caribe e África”.
Teresa Albuquerque
Correio Braziliense-Brasilia - 25/07/2007
Ótima sacada do compositor.Das Ilhas mestiças começa e termina com duas músicas bem representativas , que encurtam a distânica entre os três paises.
Janaina Cunha Melo
Estado de Minas, Belo Horizonte - 30/08/2007
Fusão natural. O compositor e bandolinista faz a ponte entre as músicas do Brasil, Cuba e cabo verde, ressaltando o que existe de comum e como uma interfere na outra. Caldeirão de Ritmos. O trabalho,com 13 faixas, reúne várias propostas de misturas rítmicas e reforça a compreensão de que a música pode e deve ser um fenômeno muito mais universal que local, apesar das idiossincrasias de cada cultura..
Edgar Augusto
Diário do Pará - 12/07/2007
Trata-se de um vôo solo radical... debaixo de um impressionante trabalho autoral. Decididamente ainda há vida fonográfica inteligente.
Mauro Ferreira
O Dia-RJ - 01/06/2007
Os arranjos valorizam o conceito do cd!
Jornal do Comercio
Rio de Janeiro - 03/062007
Vale conferir músicas como Sem vergonha, Equador e Ilhas mestiças , em que lessa faz uma verdadeira viagem musical por meio de uma seqüência impar de ritmos.
Marco Pólo
Revista Continente - Setembro 2007
O CD Das Ilhas Mestiças , de Rodrigo lessa, é uma feliz mistura de samba, choro , ritmos caribenhos e africanos com pitadas de melancolia lusa. Algumas músicas ,como Calango Mindelo, que abre o CD, instauram conversas entre os sopros graves e cordas agudas;as melodias tem progressões dissonantes que estabelecem surpresas uma atrás da outra e , ora meditativo,ora francamente dançantes, o disco encanta o ouvinte.
Ricardo Marchesan
Revista acústico - Setembro 2007
Rodrigo Lessa encurta as distancias entre o Brasil e o mundo!
Marta Simões
Tribuna da Imprensa - 28/05/2007
O Som que vem do Atlântico Negro. Rodrigo Lessa une diferentes sonoridades em Das Ilhas Mestiças... Boa Conversa de quem tem muito a trocar .
Tribunal da Imprensa
09/07/2007
Gravado entre Rio e Lisboa, o quinto disco de Rodrigo Lessa, mistura harmoniosamente ritmos do Cabo Verde, Cuba e Brasil em 13 faixas de sua autoria. O resultado é um trabalho de alta musicalidade, escorado em um bom time de músicos... Uma rica viagem pela musicalidade latina.